quarta-feira, julho 13, 2005

Reinventando

Cotidiano
(Chico Buarque)

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã
Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café
Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão
Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão
Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã
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E se um dia ela não fizesse nada disso? E se decidisse acordar tarde e não fazer café? Se acordasse de mau humor e não desse uma palavra? E se atrasasse o jantar? Se nem fizesse nada, decidisse jantar fora? Se dormisse virada pro lado, se puxasse o cobertor e deixasse o pé dele de fora? E se um dia não fizesse nada igual? Se fizesse tudo diferente? O que aconteceria?

Já acordou com vontade de surtar? Sim, com vontade! Com vontade de jogar tudo pro ar, não dar satisfação a ninguém, só a você mesmo? Já sentiu uma vontade louca de largar uma vida cômoda, tranqüila, às vezes até mesmo fácil e mudar o caminho, pegar o mais difícil? Pegar o caminho mais longo, o mais complicado, o mais esburacado... Já sentiu aquela vontade louca de obedecer àquela voz fininha, à voz baixinha que fala muito mais baixo que a voz grossa e gritante da razão? Já chegou a ouvir e entender o que dizia a voz baixinha? A voz da alma?
A razão não deve ser bloqueada totalmente, claro que não, mas não deve ser o único e maior apelo a nos guiar. O equilíbrio é algo extremamente difícil, talvez até utópico, mas a busca dele pode ser o primeiro passo...
Quando se tem condições de realmente jogar tudo pro ar, jogue mesmo! A vida é feita de riscos, você só tem que tentar chegar onde sempre quis estar... E se não der pra largar tudo, mude ao menos nas coisas pequenas.

De vez em quando é bom mudar... mude o caminho quando sair de casa de manhã, entre em outra rua. Tome leite no café da manhã ao invés de café pra variar... coma em uma lanchonete diferente, vá a um lugar que nunca foi mas sempre teve vontade, fale com aquela pessoa que vê todo dia mas não sabe nem o nome, sem pensar se vale ou não a pena, quebrar a cara faz parte da vida, não se pode evitar. Assista a um canal diferente, mude o rádio de estação, leia o caderno do jornal que nunca nem abre, durma pro outro lado da cama... A mudança é sempre o começo de tudo... Mude! Nem que seja o sabor da bala que compra sempre, nem que seja o corte de cabelo, nem que seja a maneira de encarar as mudanças...

5 comentários:

Anônimo disse...

Adoro essa letra do chico.. =)

Muito interessante o post. Eu sempre me questiono sobre isso..sobre o limite de dar vazão à sua razão ou a seus desejos. È fato que razão demais tira o brilho da vida, e que loucura demais também faz vc perder o rumo. Agora como conseguir esse equilíbrio? =(

Na verdade acho que você deu uma boa dica: "começar pelas pequenas coisas". Um caminho diferentes, um canal diferente, uma lanchonete diferente..é isso q estamos tentando fazer, dia-a-dia...Pq ninguem quer passar a vida em branco..ninguém...e estou realmente cansado do "cotidiano".

falei d+ né?

=**********

Anônimo disse...

Carol, voltei com o meu blog tb...será q tá rolando uma vontade de falar? rs
Bjoks, Lininha

Anônimo disse...

ude enina, ude! (a letra "m" falhando é uma droga!)
hahaa

Bjokas minha linda...

=*********

Anônimo disse...

É minha cara Carol, eu mais do que ninguém sei desse depoimento seu... E aliás, não é apenas uma vez ou outra que me dá vontade de jogar tudo pro alto e fazer uma mudança radical na minha vida.
Por vezes já refleti sobre isso e sei como é complicado, manter-se em pé, em meio a essa vida louca e enxurrada de preocupações e desgostos. Porém, eu ainda sou muito preso a algumas coisas e pessoas (pouquíssimas pessoas), mas se não fosse isso, já estaria longe.
Tenho um amigo que pensa dessa mesma forma e nessa semana estavamos conversando exatamente sobre isso.
Ontem eu mais do que nunca tinha acordado assim, e o pior, eu não achava que ia surtar e sim o meu dia ontem, até pelo menos à parte da tarde eu achei que fosse ser o meu ultimo dia de vida.
Mas passou, hoje tb to um pouco melhor e menos assim...
Então mocinha, não se preocupe muito, e se tiver que estourar, berrar, xingar e ou agredir alguém, faça, pelo menos uma vez, pois vc se sentirá muito melhor, nem que depois vc tenha que pedir desculpas...
Bom, estou indo, acho que me alonguei por demais e tenho medo de parecer chato....
Qualquer coisa, se quiseres conversar, é só chamar...

beijos

Anônimo disse...

Po, falei pra caramba, filosofei bunito e nem falei que o blog ta super maneiro....

beijão