segunda-feira, agosto 29, 2005

Meio fio......

Espera sentada na esquina de sempre. Parada, observa o movimento da rua. Pessoas iam, vinham, conhecidos se encontravam e desconhecidos viravam amigos. Tudo acontecia rápido demais e lhe parecia não permitir deslizes. Todos pareciam-lhe tão cerros do que faziam, que nada a animava a levantar de lá.
Alguns passavam e nem a notavam. Outros achavam estranho a mesma figura que lá permanecia todo o tempo, alguns se perguntavam a razão de ela não sair nunca e uns poucos ainda tropeçavam nela ao cortar caminho pra algum lugar.
Ela não gostava de estar ali, mas nem sabia como sair. Disseram que era pra ela levantar. “Mas levantar e ir pra onde?”, perguntava-se o tempo todo, “ficar de pé e no mesmo lugar é quase a mesma coisa, nem adiantaria”. Disseram também que deveria dar o primeiro passo, mas não tinha a menor idéia para qual lado se direcionar...
Tudo parecia tão grande, veloz, severo e difícil, que, temendo perder-se num beco escuro ou mesmo em meio à multidão, ela ficava ali... sem coragem o bastante para nada e a vida lhe parecia sem graça...
Passar a vida sentada, olhando os outros viverem não era nada do que ela tinha sonhado... aos poucos ia percebendo que não podia mais esperar, teria que se levantar e andar.... andar sem rumo certo não lhe parecia uma coisa muito segura, e não era mesmo. Mas quem foi que disse que segurança é certeza de felicidade?
Levantou e deu um passo, mesmo sem saber pra onde ia. Deu outro, e outro e mais um.... e foi indo, caminhando, tentando perceber por onde andava, mas sem tentar prever o que encontraria quando virasse a esquina. Viu que isto não era apenas impossível, mas que tentar adivinhar as coisas doía... doía muito e só atava mais ainda os nós que a prendiam no chão... Se preciso fosse, perderia-se, mas sabia que no fim acabaria encontrando o caminho, mesmo que pra isso tivesse que desviar, entrar em becos sem saída e não ter medo de voltar e seguir por outro caminho...

2 comentários:

Anônimo disse...

Que belo texto cacau...

Òtimas palavras para refletir nossa eterna procura, nossas eternas dúvidas, destrambelhados caminhos e inexplicavel vontade de ficar estagnados nos nossos cantinhos por proteção.

Acho que ela fez certo em andar e procurar. Ela poderia esperar alguém guiá-la, mas esse alguém sempre pode vir, como pode não vir, então sempre é melhor que façamos por nós mesmos. Acho que ela ainda encontra o caminho sim.

adorei.

=*

Anônimo disse...

Adorei o texto, carol!! Muito bom!!

=***